Quando uma empresa chega ao limite da insolvência, a expressão “massa falida” surge com força nos corredores do Judiciário e dos departamentos jurídicos empresariais. Quem vive o dia a dia das negociações, contratos e gestão de riscos, como nós, do Bonani Advogados, sabe o quão sensível e estratégico é entender o que acontece com um patrimônio empresarial após a decretação da falência. Mas afinal, o que significa massa falida e qual sua função no contexto das empresas brasileiras? É sobre essa fase drástica e seus desdobramentos práticos que vamos conversar.
Falência não é o fim, é o início de um complexo processo de reconstrução de direitos.
O conceito jurídico de massa falida
No universo do direito empresarial, massa falida é o conjunto formado por todos os bens, direitos e obrigações da empresa que teve a falência decretada judicialmente. É o “espólio” econômico da sociedade, herdado pelos credores. Após a quebra, esse acervo passa a ser tratado como um patrimônio independente daquele dos sócios, administrado por um responsável nomeado pelo juízo: o administrador judicial.
Sua principal função é simples na teoria: liquidar os bens, arrecadar valores e pagar credores na ordem prevista na Lei nº 11.101/2005, respeitando os direitos e garantias de cada classe.

Os números da falência no brasil
Antes de ir para as etapas, vale olhar o cenário: de acordo com dados da Serasa Experian, as falências decretadas no país cresceram 25% desde 2021, demonstrando que o problema está longe de ser incomum. Só em abril de 2025, superamos 75 empresas fechando, diferentes setores, diferentes histórias, um mesmo destino jurídico. Além disso, levantamento recente revelou que mais de 7 milhões de empresas enfrentam problemas sérios de liquidez, e a soma das dívidas supera R$ 170 bilhões, jogando uma sombra sobre o ambiente empresarial brasileiro (levantamento baseado em dados do Serasa, Receita Federal e governo federal).
A falência em si é apenas o início de uma travessia turbulenta para credores, gestores e investidores, confirmando a necessidade de assessoria jurídica especializada, como a oferecida pelo Bonani Advogados, para atravessar esse momento de modo estruturado e assertivo.
As principais fases do processo de falência
O processo de falência segue etapas bem delimitadas e, apesar de parecer técnico, pode ser compreendido de modo prático:
- decretação judicial: baseado em requisitos legais, o juiz declara quebra e determina o início do processo de arrecadação;
- arrecadação e avaliação dos bens: identificação, apreensão, guarda e avaliação dos ativos e direitos da empresa quebrada;
- liquidação do patrimônio: venda dos bens arrecadados para geração de caixa;
- pagamento dos credores: distribuição dos valores obtidos, segundo a ordem de prioridade da legislação;
- encerramento e prestação de contas: conclusão dos atos, extinção da massa e eventuais responsabilizações.
Cada fase demanda atenção, procedimentos apartados e decisões estratégicas, principalmente em ativos complexos como imóveis, patentes, softwares e contratos em vigor.
Arrecadar, avaliar, vender, pagar e prestar contas, eis o círculo do processo falimentar.
O papel do administrador judicial
A condução desse processo não fica nas mãos dos antigos gestores. Logo após a declaração de falência, o juiz nomeia o administrador judicial, um profissional ou empresa especializada, normalmente com expertise em direito, contabilidade ou administração.
São funções do administrador:
- Monitorar, proteger e conservar o patrimônio;
- Realizar a avaliação de bens móveis, imóveis e ativos digitais;
- Preparar e organizar leilões judiciais para venda dos bens;
- Apresentar relatórios detalhados ao juízo e às partes;
- Prestar contas de todos os movimentos financeiros;
- Garantir que a ordem de prioridades dos credores seja observada.
O Bonani Advogados destaca o quanto a experiência internacional dos seus profissionais faz diferença neste momento: conhecer modelos estrangeiros de liquidação pode ser determinante para evitar prejuízos ou acelerar processos.

A ordem legal de pagamento dos credores
Talvez o ponto mais delicado da massa falida seja a ordem de pagamento dos credores. A Lei nº 11.101/2005 instituiu regras rígidas para prevenir privilégios indevidos e garantir também o mínimo de justiça social no momento da partilha. Os recursos arrecadados na venda do patrimônio vão para pagar uma extensa lista de credores, obedecendo à seguinte hierarquia:
- créditos trabalhistas (limite de até 150 salários-mínimos por credor e os relativos a acidentes de trabalho);
- créditos com garantia real (limitados ao valor do bem dado em garantia);
- créditos tributários (impostos e contribuições);
- créditos quirografários (sem privilégios ou garantias);
- multas contratuais e administrativas;
- sócios e administradores (na qualidade de credores, recebem por último).
Essa ordem reflete uma preocupação prática: diminuir danos sociais na ponta, proteger trabalhadores e equilibrar interesses do sistema financeiro, fiscal e empresarial. Para um investidor ou fornecedor, entender até onde vai sua chance de recebimento é determinante antes de negociar ou fornecer para empresas em risco.
Caso queira se aprofundar sobre a proteção jurídica das empresas contra danos e responsabilidades civis, recomendo a leitura do artigo responsabilidade civil: como proteger sua empresa de danos.
Exemplo prático: um roteiro da falência à liquidação
Da quebra à liquidação há um mar de detalhes, mas todos têm um mesmo objetivo: pagar, o quanto for possível, os credores certos.
Imagine uma software house do interior paulista com atuação em tecnologia e negócios digitais, endividada devido ao cenário econômico adverso, tributação elevada e uma gestão financeira pouco eficiente, algo muito próximo da realidade apontada pelo Jornal Contábil. Os credores pressionam, a empresa não consegue acordo e a falência é pedida. Após a decretação:
- Bens digitais (licenças, softwares, servidores) e imóveis são arrecadados;
- Funcionários perdem o emprego, mas têm prioridade no recebimento do saldo de salários atrasados;
- Um leilão online vende computadores, servidores e cadeiras;
- Acordo é costurado com a prefeitura local para quitar IPTUs atrasados, respeitando a ordem legal de pagamento.
Apesar das dívidas com bancos, fornecedores e fisco, dependendo do acervo arrecadado, dificilmente todos recebem o total devido. O que define quem recebe primeiro não é apenas vontade ou acordo: é a estrita observância legal, reforçando a necessidade de preparo e assessoria durante e antes do caminho da falência.
Responsabilidades jurídicas e impactos: gestores sob a lupa
O processo falimentar coloca holofotes sobre os atos dos administradores. Eventuais fraudes, desvio de ativos, pagamento seletivo a apenas um credor (dano à par conditio creditorum) ou ocultação de bens podem levar à responsabilidade pessoal dos gestores e até mesmo à declaração da falência pessoal dos sócios, conforme decisão judicial. A postura ética e preventiva se mostra decisiva.
No contexto do Bonani Advogados, orientamos empresas a documentar minuciosamente toda movimentação, buscar acordos extrajudiciais e privilegiar a transparência. Reforçando esse caminho, veja mais sobre o tema em ética empresarial: como prevenir problemas e manter integridade.

Liquidação: como acontece a venda dos bens
A massa é composta tanto por ativos tangíveis (máquinas, imóveis, veículos, mercadorias) quanto por intangíveis (marcas, patentes, softwares, contratos em andamento). Todos são avaliados, mesmo os de difícil mensuração, e levados a leilão judicial ou venda direta, com publicidade e condições definidas pelo administrador e pelo juízo.
No digital, cresce o desafio de avaliar o valor justo de bancos de dados, domínios e aplicações – ponto de expertise do Bonani Advogados, que alia direito empresarial à tecnologia. Os credores acompanham todo processo, apresentam impugnações e podem se organizar em comissões para fiscalizar a condução dos atos.
E é importante ressaltar: eventuais contratos vigentes, inclusive de trabalho, podem ser rescindidos ou transferidos, dependendo da negociação, como tratado no artigo rescisão contratual: entenda os conceitos e aplicações.
Pontos de atenção para gestores empresariais
- Monitorar permanentemente solvência, liquidez e fluxo de caixa;
- Investir em gestão de riscos e compliance;
- Atuar preventivamente para evitar ruptura abrupta de operações;
- Ter assessoria jurídica para orientar negociações e possíveis acordos antes de cenários irreversíveis.
No gestão de riscos em contratos e em gestão de conflitos, aprofunde-se em como evitar surpresas indesejadas e melhorar a governança.
Conclusão
O universo da massa falida costuma assustar gestores, executivos e até credores bem informados. Apesar dos números expressivos, e preocupantes, de processos falimentares no Brasil (estudo econométrico publicado na Redalyc), compreender o funcionamento prático da liquidação dos bens é a melhor forma de se proteger e garantir decisões menos traumáticas e mais financeiramente responsáveis.
O segredo está na prevenção, transparência e, principalmente, em buscar o apoio de escritórios que unem experiência, visão digital e atenção humana, como o Bonani Advogados tem feito desde 2012 para pequenas, médias e grandes corporações. Quer saber como proteger sua empresa deste e de outros riscos jurídicos? Procure nossos especialistas e descubra como transformar ameaças em oportunidades de recomeço estruturado!
Perguntas frequentes
O que é massa falida?
No contexto jurídico, massa falida é o conjunto de bens, direitos e obrigações da empresa que entrou em falência, formando um patrimônio apartado, sob administração judicial, utilizado para pagar credores conforme a ordem estabelecida pela Lei de Falências.
Como funciona a liquidação da massa falida?
A liquidação acontece por meio da arrecadação de todos os ativos da empresa, sua avaliação e, posteriormente, a venda desses bens por leilão ou negociação direta, conforme autorizado pelo juiz. Os valores arrecadados são usados para quitar as dívidas, respeitando a ordem de prioridade legal dos credores.
Quem administra os bens na massa falida?
Os bens ficam sob responsabilidade de um administrador judicial nomeado pelo juiz do processo de falência. Ele cuida da conservação, avaliação, venda dos ativos e prestação de contas de toda movimentação, sempre sob fiscalização do judiciário e dos credores.
Quanto tempo dura o processo de falência?
A duração do processo pode variar bastante, indo de alguns meses a mais de dez anos em casos envolvendo grande volume de ativos, muitos credores ou disputas judiciais. Em média, observa-se prazo de dois a cinco anos, mas fatores como recursos judiciais e complexidade dos bens podem alongar esse prazo.
Quais dívidas são pagas primeiro na falência?
A prioridade obedece à ordem da Lei 11.101/2005: primeiro créditos trabalhistas e acidentários (até 150 salários-mínimos por credor), depois créditos com garantia real, seguidos dos créditos tributários, quirografários (sem privilégios) e, por fim, multas e créditos de sócios/administradores. Assim, trabalhadores são, regra geral, os primeiros a receber.